terça-feira, 2 de outubro de 2012

Crônica da Semana

Do treinador ao técnico: o que mudou no futebol?
Miguel de Freitas
 
Diante dos acontecimentos do mundo futebolístico, hoje eu gostaria de começar uma reflexão sobre um agente considerado importante neste esporte, mesmo sem adentrar no campo, o que inclusive é proibido pelas regras do jogo. Ele é considerado um personagem central, capaz de mudar os acontecimentos de uma partida, pois a sua tomada de decisão é fundamental para definir o padrão de atuação da equipe. Refiro-me ao técnico. 

Antigamente, existia o treinador, aquele apaixonado que carregava o saco de bolas, os uniformes, que ia buscar os seus atletas em casa, que aconselhava... mas ninguém dava muita atenção a ele. Quando o futebol deixou de ser lúdico, o treinador desapareceu e o futebol profissional colocou uma tecnocracia da ordem em seu lugar. Segundo Eduardo Galeano, foi neste momento que nasceu o técnico, com a missão de evitar improvisação, controlar a liberdade e elevar ao máximo o rendimento dos jogadores, obrigados a transformar-se em atletas disciplinados, é claro que no Brasil isto caminha de forma mais lenta e permissiva. Mas como estamos acostumados a justificar – isto faz parte da nossa cultura.
Neste universo esportivo quase a totalidade dos técnicos foram jogadores de futebol. Portanto, devemos considerar que essa experiência é proveitosa para o desempenho da função, muito mais do que as experiências aprendidas nos bancos das universidades, hoje ainda se valoriza o currículo pregresso do treinador, pois quanto maior foram as suas glórias como atleta, mais ele será respeitado no início da sua carreira. Talvez seja por isto, que no Brasil os técnicos se diferenciem muito mais no seu comportamento frente as equipes do que no nível de seu conhecimento.
Constantemente vemos a mídia mostrando que este técnico é disciplinador, autoritário e exigente; outros são organizados; outros respeitam as regras éticas e morais... Mas normalmente quando as coisas não vão bem na equipe, eles são substituídos por técnicos mais liberais, que trabalham pela intuição e que são bons de conversa, fazendo com que o clima seja propício para as mudanças. Nesta semana, Marcos Assunção um dos principais jogadores da equipe do Palmeiras veio a público e disse “Não adianta mudar o treinador, pode trazer qualquer pessoa aqui, se o jogador não quiser não tem jeito, pois quem entra em campo e joga somos nós”.
E nós ainda torcemos e acreditamos que eles amam e defendem os seus clubes ardorosamente. Se para “derrubar” o treinador os atletas fazem corpo mole, vão para o departamento médico, deixam o time ficar na zona de rebaixamento... Imagine se o salário estiver atrasado, se for contratado um jogador que desagrade o grupo, se as condições de trabalho não forem consideradas adequadas...
Dizer que o futebol é um espaço de alienação é ser alienado, pois a consciência de classe manifesta-se a todo o momento. Talvez não por parte dos “treinadores” que devido as exigências do mercado e de uma sociedade capitalista, acabam se transformando em verdadeiros abutres, esperando uma oportunidade, sem perceber as consequências nefastas desta decisão, pela qual eles são rapidamente descartados. No campeonato brasileiro da série A, um técnico é mandado embora a cada duas rodadas. Provavelmente seja por isso, que nenhuma criança sonhe em ser um grande técnico de futebol.