segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Crônica da Semana

FUTEBOL NÃO TEM LÓGICA: NOTAS SOBRE A EFEMERIDADE DO JOGO

Por Everton de Albuquerque Cavalcanti

 

É consolidado no campo esportivo que o futebol é uma prática extremamente ligada ao processo histórico cultural do Brasil e de muitos outros países, caracterizando-se como um esporte reconhecido pela paixão mundial. Isto pode ser observado durante o período de Copa do Mundo, quando a disputa da competição futebolística mais importante do planeta demonstra seu potencial em igualar-se aos jogos olímpicos. Muitas pessoas não conseguem enxergar tal gosto pelo futebol como algo relevante na vida da sociedade, porém, acredito que o sentimento implícito nos sujeitos que revelam amor a esta prática vai além do que as palavras possam explicar.

Explico: é certo que no processo histórico perpassado por muitos indivíduos, o futebol está incorporado desde a gênese como uma prática de atividade física, de lazer, de espetáculo e quem sabe, até mesmo de uma futura profissão. Apesar de toda a globalização e a massificação do esporte como algo comercial, é notável como muitas crianças vivenciam esse esporte como algo que simplesmente lhes atrai os olhos pelo prazer. Mas de onde surge essa vontade de jogar? Porque essa paixão atinge o coração de milhares de crianças que nem sabem o real significado social, político e cultural dessa prática?

Se a psicologia pode explicar como tais experiências proporcionadas na infância atingem essa maturidade sentimental através do domínio motor, cognitivo e afetivo-social, a história mostra que a paixão pelo futebol pode ser algo maior, advindo de um dos domínios dos quais menos se espera, o afetivo-social. Sabem por quê? É através da relação paterna, principalmente, que estabelecemos os primeiros contatos com a prática futebolística, seja através da ludicidade proporcionada por uma brincadeira de chutar a bola, seja pelo anseio do pai em levar o filho(a) ao estádio para que este dê continuidade a tradição de família.

Ou seja, o sentimento nasce de todo um processo de experiências que a criança viveu nas diversas fases da infância. Não relegando a possibilidade da genética, haja vista ter alguns meninos e meninas que segundo Giglio (2007) parecem ter nascido com o dom de jogar futebol. Logo, é notório que algumas coisas ligadas a essa prática são oriundas de um processo histórico-social extremamente importante e interligado ao sentimentalismo implícito no jogo e no contexto em que o mesmo se apresenta.

Toda essa paixão que permeia não só o inconsciente do torcedor, mas o discurso da imprensa parte de uma característica muito relativizada às vezes pela imprensa, porém, pouco entendida no momento da crítica. Trata-se da LÓGICA: processo filosófico pelo qual um raciocínio é válido, algo que me parece cada vez menos caber ao futebol, mas que, no entanto é tão enfatizado pela imprensa esportiva. É simples dizer que o campeão mundial Corinthians passaria por cima do Náutico no Pacaembu, entretanto, é complexo entender porque esse mesmo campeão mundial apenas empata em casa com o lanterna do campeonato.


Talvez seja essa a graça do futebol, sua imprevisibilidade, sua capacidade de gerar o erro, de provocar comoções sociais, de rememorar o histórico, de enaltecer o passado, de reivindicar o presente, de tratar o processo biológico do jogo profissional, para que o espetáculo seja de qualidade compatível com o que se investe financeiramente. Vemos como esse esporte não só aglomera o senso comum, mas interliga-se a “n” áreas de discussão que vão da filosofia à farmácia. Sem supervalorização daquilo que em minha opinião tornou-se um campo de estudo, não acredito que alguns sujeitos sem conhecimento de causa pensem que o futebol é pleno e puro entretenimento.