terça-feira, 11 de outubro de 2011

Brasileirão ou Torneio Rio-São Paulo?

Luiz Carlos Ribeiro
Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade
UFPR
Primavera de 2011

Neste ano o Campeonato Brasileiro de Futebol comemora 40 anos de existência. Criado em 1971, ele é sucedâneo de várias tentativas de se criar um campeonato nacional, como ocorre na Inglaterra, Itália e Argentina desde o século XIX.
A dimensão territorial do Brasil e a resistência das oligarquias esportivas regionais foram os fatores que inviabilizam, até então, a criação de um campeonato de formato nacional.
De todo modo, tivemos como tentativas precursoras a criação em 1922 do Torneio de Seleções (também chamado de Campeonato Brasileiro de Seleções) que era disputado entre seleções estaduais, tendo sido disputado até 1963. Tivemos também – de 1933 a 1966 – o Torneio Rio-São Paulo, que foi a primeira experiência de um campeonato interestadual entre clubes.
Com a criação da Taça Libertadores em 1960, que exigia a indicação de um representante nacional, nasceu em 1959 a Taça Brasil. Essa fórmula persistiu até 1968.
Em 1967 surgiu o mais acabado embrião do atual campeonato brasileiro. O Torneio Roberto Gomes Pedrosa (o "Robertão" ou Taça de Prata) era disputado por times do eixo Rio-SP e mais os principais clubes de estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O último "Robertão" aconteceu em 1970, um ano antes do Brasileirão.
O final da década de sessenta e início de setenta conheceu o fenômeno econômico do “milagre brasileiro” (1969-1973), quando a economia nacional conheceu taxas elevadíssimas de crescimento (11% do PIB) e promoveu forte modernização, tanto na malha rodoviária e aérea quanto no sistema de comunicação, em especial com ampliação da transmissão dos jogos pela televisão. Essa modernização veio ao encontro do objetivo do regime em ampliar a ideologia da unidade nacional. Nessa direção, ainda, foi a criação de grandes estádios, por iniciativa do governo federal, em várias capitais, deixando clara a política do regime militar de ao mesmo tempo enquadrar e associar-se às elites regionais do futebol brasileiro. Ou seja, esvaziar a autonomia dos poderes locais a favor da centralização política, oferecendo em contrapartida escusos benefícios financeiros e materiais (como os estádios) aos dirigentes de clubes e federações estaduais. Estava decretada a falência dos campeonatos e das federações regionais, e o nascimento do Campeonato Brasileiro de Futebol.
Mas esses 40 anos de história foram marcados por diversos episódios, desde a ampliação no número de clubes, visando atender os interesses populistas do regime e dos dirigentes locais, até a intervenção do sistema de televisão. São eventos que demandariam mais tempo e espaço para serem expostos e analisados.
Por fim, fica a constatação/pergunta sobre o perfil real do chamado “campeonato brasileiro”. Verificando a lista dos campeões de 39 edições (exceto o campeonato de 1987 que por lambança política teve dois campeões, Sport e Flamengo) constatamos que 12 deles (30,7%) são do Rio de Janeiro e 17 (43,5%) são de São Paulo. Ou seja, mais de 74% dos títulos do Campeonato Brasileiro foi conquistado pelo eixo Rio/São Paulo.
A pergunta é, o quanto o quarentão campeonato brasileiro é efetivamente um campeonato nacional ou continua a saga iniciada nos anos trinta do velho torneio Rio-São Paulo? Quarenta anos do Campeonato Brasileiro de Futebol. Eis aí um bom tema para uma monografia ou dissertação de mestrado.

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