domingo, 23 de outubro de 2011


Trata-se se uma reportagem no site do jornal alemão “Bild”. Em síntese, a reportagem trata previamente do amistoso de Brasil 2 x 3 Alemanha(10/08/2011), destacando o personagem/jogador Neymar no confronto. Este seria considerado o “maior talento repentino”(“Sturmtalent”) no Brasil. É sobre esta última afirmação que teço meus comentários

Antes de mais nada consideremos a Alemanha como um “país do jornal”. Dentro dessa perspectiva se insere o “Bild”- um dos jornais mais lidos no país - tido como um jornal sensacionalista e popularesco, por vezes apelativo em suas abordagens. Portanto, pode-se enquadrar facilmente o veículo na categoria dos mass media. E como se sabe os mass media não sobrevivem sem a existência da idolatria

A idolatria proposta que toma forma aqui pela palavra “Sturmtalent”(para além de um “dispositivo comercial” de um jornal alemão) encontra provavelmente sua “boa” recepção no público á partir do entendimento da seleção brasileira como reflexo objetivo da “nata” do futebol brasileiro(poderíamos aqui remontar até mesmo a identidade nacional brasileira), neste caso através do jogador Neymar. Consideraremos, portanto, a seleção brasileira enquanto instância máxima de consagração do futebol brasileiro.  

O entendimento da seleção brasileira como a “nata” do futebol brasileiro passa longe do mínimo da coerência. No campo esportivo ver-se-á que historicamente nossas seleções foram formadas com base no eixo Rio-SP. Já no campo midiático cultural, verifica-se por exemplo em Placar – um dos veículos mais de amplo prestígio nacionalmente – que de 1971 a 2000 - 90% dos “craques” da seleção da “bola de prata” jogam sobretudo nos times dessas mesmas regiões.

Até mesmo um caso de sucesso revela o hábito “brasileiro”, por trás da constituição do nosso selecionado: David Yallop conta em seu livro “Como eles roubaram o jogo” que o jogador Ronaldo(o “R9”), antes de “estourar” no Cruzeiro – e depois se tornar o herói do penta - sofreu no São Cristóvão. Seu treinador(Jota) naquele momento escreve uma carta á CBF, solicitando materiais esportivos para continuar com a escolinha que tinha. A CBF - já em negociações com a Nike – responde em outra carta, negando o pedido por “falta de recursos”. Mas este mesmo Ronaldo(na ocasião sem condições mínimas), será tido peça chave da seleção, na final da copa contra França em 1998 – copa aliás que não entendo, dentro dessa “coerência”, o porquê de não se convocar Alex (meio-campo que jogava então no Palmeiras).

Mas é esse o “quadro”. Atualmente o futebol brasileiro conta com 13 milhões de jogadores, mas o “futebol arte” selecionável só “existe” habitualmente em determinados times e “contextos”: e o mundo compra. Se Marcel Duchamp fosse cartola no Brasil(e obviamente se tivesse bons contatos)certamente iria fazer dinheiro com sua estratégia de “ready made”. 

A reportagem a que se refere o texto acima se encontra no endereço
A sugestão de texto e comentários são de Daniel Ferreira.

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