segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Frustrado, mas apoiando

Levantamento mostra que o curitibano está desapontado com a participação da cidade na Copa, rechaça uso de dinheiro público na Arena, mas incentiva vinda do evento e espera ver a rival Argentina em campo Relegados a acompanhar só jogos de menor apelo da Copa de 2014, os curitibanos confessam: es­­peravam mais. A decepção com o papel coadjuvante da cidade no evento foi comprovada em números. Mais da metade dos moradores da capital, 55,8%, disse que Curitiba merecia uma participação maior do que as quatro partidas, só da primeira fase, durante apenas 11 dias do Mundial.



O baque veio há dias, quando foi anunciada pela Fifa a agenda de jogos e ainda a exclusão do município na Copa das Confede­­rações de 2013. Com exclusividade para a Gazeta do Povo, a Para­ná Pesquisa saiu às ruas enquanto os moradores digeriam a participação minúscula da capital – a menor entre as 12 subsedes, ao lado de Natal, Manaus e Cuia­bá. Ape­­nas 36,71%, dos 504 en­­tre­vistados, ficaram satisfeitos com o calendário que sobrou.


Ter uma participação mais respeitável no torneio era um anseio da população desde 2009, quando Curitiba foi uma das escolhidas para alojar o evento. À época, 56,04% dos moradores acreditavam que jogos decisivos das oitavas, das quartas ou até uma semifinal poderia atrair os olhos do mundo para a região. Nada disso.
“Esse sentimento de frustração é de todos os curitibanos, to­­dos os paranaenses que esperavam um pouco mais. A gente só tem a lamentar, porque sabemos que tínhamos mais a oferecer. Somos o quarto PIB entre as capitais, considero que merecíamos um olhar diferente”, la­­men­­tou o secretário municipal para Assuntos da Copa, Luiz de Carvalho.

Sem a seleção brasileira, que já não desembarcaria mesmo no Afonso Penna por limitações do estádio – jogos do Brasil devem ser em locais com no mínimo de 60 mil lugares e a Arena terá 41 mil –, e sem duelos mata-mata, o interesse pelos jogos caiu. Dos entrevistados, 68,65% declararam que gostariam de ver alguma partida. O número dos que responderam “sim” em 2009 era de 76,58%.

Restou como único consolo da cidade a aparição de um dos cabeças de chave. E a preferência do público surpreendeu, com a Ar­­gentina no topo da lista das seleções citadas na pesquisa, com 49 % de menções.

“Existe uma rivalidade grande, mas uma proximidade sadia entre os paranaenses e os argentinos, até por questões geográficas”, comentou Carvalho. “Acho que só se for para torcer contra”, brincou o diretor da Paraná Pes­quisa, Murilo Hidalgo.

Com os hermanos em campo, Curitiba teria a chance de ao menos ver o atual melhor jogador do mundo ao vivo.

O levantamento também to­­cou em temas recorrentes sobre o Mun­­dial. Apesar do desprestígio paranaense, o apoio à realização do torneio cresceu em relação à última sondagem, feita em julho: é de 72,82% (era 66,5%).

Por outro lado, dentro da margem de erro, aumentou o número de quem é contra com o uso de dinheiro público para a conclusão das obras no reduto atleticano: de 73% para 74,4%.

“Muito se fala, mas pouco é efetivamente explicado sobre toda essa engenharia financeira. As dúvidas aumentam essa desaprovação”, opinou Murilo Hidalgo.

Também é grande o número de pessoas que, há menos de três anos do Mundial, não acredita que as obras na Arena serão com concluídas a tempo. O grupo de desconfiados atingiu 42,9% dos entrevistados.

“O Atlético é um grande parceiro da prefeitura. Houve uma série de discussões internas que se prolongaram, causando um desgaste e um comprometimento do início das obras”, disse Car­­valho, confiante no cumprimento do cronograma.
Por enquanto, as partes envolvidas – poder público municipal e estadual, além do Atlético – seguem sem esclarecer como será a manobra financeira para viabilizar financeiramente a obra – sem esbarrar em aspectos legais.

“[A Arena] ia ficar e vai ficar pronta para a Copa das Confe­­derações [junho de 2013]”, garantiu o gestor das obras do Atlético, Mario Celso Petraglia.





A pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo evidencia a suposta decepção regional com o papel relegado à cidade de Curitiba no mundial que se aproxima. O número reduzido de partidas (apenas quatro) e a “exclusão” da Copa das Confederações desapontou parcela significativa dos entrevistados, além, obviamente, do próprio secretário municipal para os assuntos da Copa. Porém alguns aspectos devem ser ponderados. A expectativa quanto à participação da capital paranaense no evento deve ser considerada dentro da perspectiva das possibilidades. Ou seja, não havia indícios concretos, seja na infraestrutura (inclusive na capacidade de acomodação do estádio), na captação de investimentos (públicos ou privados),
ou mesmo de mobilização política / social que corroborassem um espaço mais destacado à Curitiba na competição de 2014. Neste sentido a “exclusão” da Copa das Confederações pode ser considerada uma surpresa maior. Afinal, diante das outras sedes, a Arena da Baixada reuniria boas condições de ter suas obras finalizadas a tempo para o evento preparatório.

Outros fatores que permitem relativizar esta decepção residem nas ressalvas demonstradas pelos entrevistados quanto aos investimentos necessários para a realização do mundial.

Embora a maioria dos consultados no mês de outubro tenha manifestado sua frustração com a divisão das partidas, muitos mostraram-se contrários à captação de recursos públicos para o evento. Do mesmo modo, parcela significativa revelou sua desconfiança com a conclusão das obras no estádio atleticano. Embora os entrevistados pleiteassem maior destaque para Curitiba, inclusive enquanto meio de exposição da cidade no cenário internacional, suas impressões com relação à capacidade da cidade em sediar satisfatoriamente o evento são significativamente pessimistas. Ainda há grande desconfiança pública regional com a realização da Copa na cidade, sobretudo quanto à idoneidade da administração sobre possíveis verbas e investimentos públicos.

Parece que a frustração se manifesta muito mais por uma expectativa passional, própria do torcedor, do que por uma crença real nas capacidades administrativas apresentadas para sediar o mundial.

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